segunda-feira, 14 de janeiro de 2008




O infinito gasoso fez sombra

O Infinito gasoso fez sombra O infinito gasoso fez sombra. Em 2003, o mundo todo corre, desesperadamente. Ninguém entende porque os olhos da primavera já não abrem, é tudo rodeado de uma incrementada dor...os trabalhadores em greve, sonham com as papoulas, enquanto o governo títere corta os pentelhos de sua barba. A vida, coitada, despe-se, prostituída pela reforma de uma previdência-tributária, imperialista... o colonizador goza com suas tetas cheias. O colonizador come o cu da Amazônia. O colonizador come o cu do PT e o pt come o cu dos trabalhadores, enquanto o infinito gasoso faz sombra no design. O design é um menino com aids, uma criança com câncer, um velhinho morto de fome... o design é a estética da misericórdia: fome % sob meus olhos que pifam de estrangulados... quando me pus a contar as estrelas naquela noite, não poderia imaginar que as nebulosas me engolissem. Agora estou no estômago do silêncio, roendo minhas unhas desgastadas e que jamais serão pintadas com os produtos Avon. Naquela noite o cometa Halley teve um orgasmo em minhas pernas. A vida atravessou o período histórico e fez um desenho imbecil chamado ordem e progresso. O corcunda de notre dame foi quem fotografou a imagem, mas foi Tio Sam quem se deu bem. Hoje, quando o infinito gasoso faz sombra na Medina, as mulheres encapuzadas fazem dormirem seus gemidos, em dúzias de rezas e couraças, mas mesmo assim, elas gemem, de tesão... eu fiquei, para não me amedrontar com os sofrimentos do mundo torto, completamente extasiada, diria até, paralisada, e a dor, meu caro, ser menor naquele paraíso fiscal. Estou tentando ser mais cautelosa com as possibilidades que meus poucos anos informam, tentando, porque talvez, eu possa decidir, na utopia das veias, lutar pelas borboletas do infinito gasoso...

a estoria de mari

A estória de Mari não tem a beleza dos bem-te-vis, nem a alegria das estrelas, tipo aquelas noites enluaradas. É quase um assombro de escassez de felicidade. É a estória de uma menina que de tão só virou poeta, e que de tanto escrever, se apaixonou por um fonema. O fonema não sabe. Mari também não. O pior é que, se os dois souberem a prosa se acaba e a invenção vai se quebrar...Mari era romântica por excelência, mas seu romantismo era oculto. Debaixo de 7 chaves, escondido entre a ficção de Vitor Hugo e as dores de Castro Alves. Ela escondia do dia, quando a noite chegava, para não mostrar às madrugadas - com estrelas ou sem estrelas - a luz do seu enorme coração. Ela sabia amar como poucos e odiar como muitos. Mari era uma bruxinha de pano. Ela queria ser feliz e apaixonou-se por um fonema, que de tão estúpido, resolveu colocar lenha na palavra, só para atordoar o poema de Mari. Fazia assim por ignorância. Talvez amor inconsciente, desajeitado, amor de viés. Ela cuidou de cuidar melhor da sua concordância verbal e fez carinho nas letras. Fez amor nas frases, deu afago, dedicação e beijos em suas regras gramaticais. Fez de tudo para encontrar o graal das paroxítonas. Amou desesperadamente a espécie lingüística em sua nudez. Mas de nada adiantou, ela só levava pau das exclamações assustadas! Não adiantou amar o desconhecido. O desconhecido não se deixou conhecer. Tapou a porta, os olhos, o coração...Mari não sabia que vivia uma peleja naquele vasculhar de palavras. Era uma luta entre desiguais. Amor e ódio. Ódio e amor. Duas peças no jogo da morte da vida. Mari jogava sem saber que estava jogando e ia no caminho da busca querendo ser feliz (atrás do trio elétrico). O fonema aparecia e desaparecia. Fazia gargalhadas com o desespero de Mari. Mari caiu numa emboscada. Caiu no abismo de Sísifo. Caiu no beco sem saída do poema ingrato. Mari continua triste, mas vez por outra se alegra com as palavras que pesca em seus cantos de Maldoror. Ela sobrevive na peleja e é a poeta das formiguinhas do seu jardim. Ela é só. Ela é esquisita. Ela é quase humana em sua moldura de pano. Mas Mari recebeu um telefonema inesperado no meio de sua história de trancoso. Uma ligação do além. Do outro lado um anjo negro lhe dizia: "Mari preciso de sua companhia" e o eco respondia: "de sua companhia, de sua companhia". Mari quase sorriu naquela metalinguagem. O fonema iria cair do cavalo? Mari encontrou um aliado? Quem poderá responder a esse paradoxal conto de narrador lombrado? O narrador disse a autora que a formação desse amor poético era uma ficção. A autora não quis discutir o assunto, acendeu um cigarro e foi ver Irene dar sua risada